O crédito, segundo Marx, não é senão antecipação de mais-valia futura, antecipação à qual tem de se seguir a correspondente valorização real do capital. As bolhas financeiras são exatamente a falta da base real da valorização do capital especulativo, que se dá numa dinâmica de lucro rápido. Este processo encontra seu limite através dos seus efeitos inflacionários que atravancam o crescimento econômico. A aceitação da ideologia neoliberal por parte dos Estados Nacionais é simplesmente a homologação de uma sistemática financeira desregulada.
Já a questão de intervenção estatal sobre as contradições que trazem os novos paradigmas do sistema econômico não são de modo algum diretamente salutares ao seu funcionamento nem possíveis, pois a estatização da crise leva apenas a um desvio de seus prejuízos, que irão ser absorvidos sem perspectiva de ressarcimento posterior, pois o dinheiro foi aplicado sobre a especulação de capital fictício.
O discurso neoliberal se vê, assim, paradoxalmente exigindo o apoio estatal que não deve se importar com os déficits públicos e a taxa inflacionária. Sua contenda deve ser mediada por um administrador nacional da crise que em muitos pontos torna-se gestor anti-social, fazendo-se assim uma dolorosa genuflexão às vontades patronais. Podemos notar esse lado do discurso econômico quando nos detemos à questão dos bilhões dos pacotes de salvamento para evitar o colapso do sistema de crédito, que contém um enorme potencial inflacionário, sem qualquer perspectiva social.
Por outro lado, não podemos concluir que essa intervenção estatal irá se enveredar a uma política de provimento de bens indivisíveis e de assistência ao desenvolvimento socioeconômico geral. A política de "Keynes" não irá além de uma reorganização da estratégia neoliberal; a tomada das rédeas da crise pelo Estado, de forma simplificada, poderá agravar o quadro de pobreza, que irá chegar a níveis qualitativamente novos dentro do cenário do primeiro mundo. O ponto crítico poderá vir a ser atingido quando a contaminação geral atingir os setores de serviço financiados pelo capital fictício.
Destarte, a crítica de Robert Kurz pode ser encarado com um tom de relutância em face da incerteza que paira sobre o futuro do capitalismo e o futuro do mundo:
“É uma idéia sobretudo embaraçosa pensar que a face do capitalismo se há de humanizar justamente sob a pressão do colapso financeiro e da conjuntura econômica em queda. A crise da economia mundial não terá happy end.”
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